O Fim Do Mito
Atraso económico aumenta no Norte
ALFREDO MENDES
Crise. O Norte não conseguiu adoptar um novo paradigma de desenvolvimento face à terciarização, concorrência global e economia do conhecimento. O declínio acentuou-se com a deslocalização de empresas. A criação de emprego teve ontem um impulso, comJosé Sócrates a participar no anúncio de novo projecto da PT
Atraso económico aumenta no Norte A perda de poder económico da região Norte configura um dos principais factores de constrangimento da economia do País. Esta é, em resumo, uma das conclusões, porventura a principal, dos especialistas da região contactados pelo DN. Ainda que abominem o estafado discurso contra o poder da capital, não deixam de compreender as razões por que os agentes económicos preferem instalar os seus negócios na órbita do Terreiro do Paço.
Daí as oito personalidades ouvidas sustentarem que o definhamento do dinamismo aos níveis económico, político e social apenas pode ser contrariado através de uma estratégia de matriz nacional. Logo, o problema da região nortenha é o de Portugal, assinalam as personalidades escutadas neste trabalho. Importante força motriz nos finais do século XIX e até finais de 1980, a região ficaria quase sem fôlego com o desaparecimento das grandes unidades fabris, quantas delas de cariz familiar, cujos herdeiros, em muitos casos, preferiram vendê-las às multinacionais em vez de investirem na modernização e na qualificação técnica e humana, cativando novos mercados.
Acresce que, nem sempre, os fundos da então CEE foram aproveitados para os fins a que se destinavam, o que fez emergir um ostensivo novo-riquismo. Resultado: trabalho infantil, baixos salários, ou em atraso, falências fraudulentas.
Mas se também os fundos de coesão não beneficiaram os empresários honestos e empreendedores, consequência de uma visão autista. A incapacidade de inovar, de diversificar, de escolher um novo paradigma de desenvolvimento condenariam, também, o Norte ao desalento.
Depois, a globalização. As pequenas e médias empresas vulneráveis aos ventos de mudança, à taxa de câmbio do euro, ao alargamento da UE a Leste e, claro, o esmagamento dos preços por parte da China. Como sair da crise, mediante a falta de elites que projectem valores e de protagonistas que elevem ânimos e orgulhos?
Urge aprofundar o interface entre a universidade e o universo empresarial, perfilhar a criatividade nas pequenas e médias empresas, ainda de mão de obra intensiva. Há que potenciar os recursos humanos. Impõe-se, ainda, transformar o tecido económico com empresas de mais valor acrescentado, fazendo surgir novas marcas e novo design. A tercialização, o agro-turismo, a tecnologia em áreas como a ciência, nomeadamente no domínio da saúde, são pólos adiantados pelos especialistas como importantes para a recuperação empresarial da economia da região nortenha.
De contrário, o Norte do apogeu e queda continuará a empobrecer, o seu Produto Interno Bruto per capita continuará bastante abaixo da média nacional, enquanto muitas famílias continuarão a receber os salários em géneros alimentícios. A região quer vencer o campeonato da competividade e usufruir do tratamento que, em outras alturas, deu ao País.
http://dn.sapo.pt/2008/08/19/nacional/atraso_economico_aumenta_norte.html